domingo, 14 de junho de 2020

"OH DEUS! DÁ ME A ESCÓCIA, SENÃO EU MORRO". JOHN KNOX!

John Knox: Corajoso Defensor da Verdade

Não sabemos muita coisa sobre os primeiros anos da vida de John Knox, mas é bem provável que ele tenha nascido por volta do ano 1513, próximo de Edimburgo. Martin Lloyd Jones nos diz que Knox “foi criado numa família pobre, sem antecedentes aristocráticos e sem ninguém que o recomendasse.”[1] Mas, apesar disso, Knox estudou teologia e foi ordenado sacerdote aos vinte e cinco anos de idade. Com o tempo ele se tornou tutor dos filhos de alguns nobres que eram favoráveis ao protestantismo e também se aproximou de um ousado pregador do evangelho chamado George Wishart. Na verdade ele passou a ser guarda-costas desse intrépido pregador George Wishart.”[2]

Também, sabemos pouco sobre sua conversão, mas, ele possivelmente foi convertido ao ouvir as palavras de João 17.3, texto esse que ele guardou pro resto de sua vida e no qual ancorou os anelos de sua vida.

A Escócia dos dias de Knox era um mundo turbulento e corrupto, dominado por um clero avarento e por líderes civis inescrupulosos. A Igreja Católica havia corrompido especialmente a maneira de cultuar a Deus e sua forma de governar a igreja.

Naqueles dias as pessoas se curvavam diante de imagens e adoravam inúmeros objetos pagãos, repudiados pela palavra de Deus. Os mártires, os apóstolos e a virgem Maria ocupavam lugar especial na adoração e eram objetos de cultos. A igreja estava abarrotada de invenções humanas e aparatos papistas e precisava urgentemente de uma reforma.

Douglas Bond observa que Deus já vinha preparando o caminho para a reforma e isso desde os dias dos Lolardos, no fim do século XIV. Mais recentemente, Patrick Ha­milton, havia pregado de tal forma o evangelho na Escócia que chegou a ser preso e queimado na fogueira em 1528.[3]

Nesse ambiente de total apostasia, aprouve ao Senhor Deus reformar sua igreja por meio da fiel pregação da Palavra, e para isso Ele levantou esse corajoso e destemido pregador chamado John Knox.
O problema é que quando o evangelho começou a ser anunciado os líderes católicos começaram a ficar incomodados. O Cardeal David Beaton, que era um tirano inescrupuloso, decidiu varrer da Escócia todos os vestígios da Reforma. Em janeiro de 1544, por exemplo, ele ordenou que quatro homens fossem enforcados porque deixaram de observar a Quaresma e orar aos santos. Mandou também prender a esposa de um desses homens que estava grávida, pelo fato dela não invocar Maria e sim o nome de Jesus Cristo em suas dores de parto.

Por esse tempo, o pregador George Wishart ganhava espaço e a reforma avançava. Mas, não demorou para que Wishart fosse preso e condenado à morte na fogueira, a mandado do Cardeal David Beaton no ano de 1546. As notícias desse trágico episódio se espalharam pela Escócia e o povo criou profunda aversão ao Cardeal David Beaton e a todo o clero corrupto. A partir de agora todos os que defendiam a causa da reforma estavam marcados, e corriam sérios perigos. Mas, Knox não se importava mais com isso. Ele começou a abrir a boca e falar abertamente contra os erros da igreja e corrupção do clero e aos poucos as pessoas foram dando ouvidos às suas pregações.

Acontece que por conta da revolta contra a morte de George Wishart, diversos jovens invadiram o castelo de Saint Andrews e assassinaram o Cardeal David Beaton. Knox não participou desse ato, mas entendeu isso como sendo o justo juízo de Deus contra aquele perverso tirano. Mais tarde Knox se juntou aos jovens que agora ocupavam o castelo. Enquanto isso os exércitos de Mary Guise, a rainha regente se pre­paravam para invadir o castelo e prendê-los.

Os jovens do castelo pediram ajuda ao rei da Inglaterra, Henrique XVIII e estavam confiantes de que ele os livraria. Por outro lado, Mary Guise, a rainha regente, pedia apoio à corte francesa. O resultado é que a Inglaterra não enviou auxílio, enquanto que a França mandou um poderoso exército que bombardeou o castelo e os muros foram derribados, e em 31 de julho de 1547, Knox e seus companheiros se entregaram. Eles foram presos e condenados a viverem como escravos nas galés, acorren­tado a um remo de navio. Ali eles eram tratados com toda a indignidade e com uma intensa crueldade.[4] Nessa deplorável condição, Knox passou dezenove meses, o que deixou marcas terríveis na sua saúde para o resto da sua vida.

Em 1547 o Rei Henrique VIII morreu e foi sucedido por seu único filho, Eduardo VI. Eduardo era ainda um menino, e por isso ficou sob a tutela de vários homens piedosos. E foi nesse tempo, em fevereiro de 1549, que os conselheiros protestantes da corte de Edu­ardo conseguiram a libertação de Knox. Knox foi então para a Inglaterra e foi recebido com entusiasmo por líderes que buscavam uma reforma verdadeira.

Ele se tornou um dos capelães da Coorte e a partir de então passou a pregar todos os dias da semana. Muitas oportunidades lhes foram oferecidas as quais ele recusou, pois suspeitava dos bispos da Inglaterra. Em um determinado momento chegou mesmo a se desentender com o arcebispo Thomas Cranmer pelo fato de Cranmer dizer no Livro de Oração Comum que a postura correta para receber a ceia do Senhor era ajoelhado, enquanto Knox dizia que esse ato cheirava a paganismo medieval e era uma invenção humana.

Por esse tempo, Knox também foi enviado a servir como pregador em Berwick, na fronteira com a Escócia e foi nesse período que se firmou como grande pregador. O Rei Eduardo VI morreu em 1553 e foi sucedido pela sua meia irmã, Maria Tudor, a quem Knox chamava de a “Jezabel idólatra”. Essa mulher recebeu o merecido título de Maria a Sanguinária. Maria era filha de Ca­tarina de Aragão, ex-mulher de Henrique VIII, e queria reestabelecer o catolicismo na Inglaterra, por isso deu início à uma sangrenta perseguição contra os protestantes.

Knox e muitos outros tiveram que fugir e “acabaram indo para o continente europeu e começaram a estudar aos pés de João Calvino, em Genebra”.[5]  Em 24 de Setembro de 1554 Knox recebeu convite para pastorear uma igreja de língua inglesa em Frankfurt. Ele foi, porém teve sérios problemas por lá, porque a igreja seguia a forma anglicana de culto, a qual Knox considerava idólatra. Por conta disso ele foi expulso e teve que voltar para Genebra.

Como aluno de Calvino, John Knox aprendeu acerca da centralidade de Cristo na pregação, sobre a forma de governo bíblico e os princípios bíblicos da adoração cristã. Agora sim, ele estava pronto para a batalha pela fé reformada.

Knox amava a Escócia e sentia forte desejo de retornar. Por isso, em 1555, a pedido de alguns nobres escoceses, ele voltou, e aproveitou a oportunidade para casar com sua noiva Marjory Bowes. Knox começa a pregar abertamente a fé reformada, declarando publicamente guerra contra a idolatria católica.  Obviamente o clero e a rainha odiavam sua pregação, mas, os Escoceses viram em Knox o homem que o país precisava para reformar a Igreja.

Ele precisou voltar à Genebra onde permaneceu de 1556 a 1559, e foi nesse tempo (1558) que ele, aborrecido com o governo de Maria a Sanguinária, escreveu o livro “O Primeiro toque do clarim contra o mons­truoso governo de mulheres”. Sua intenção era denunciar os males da rainha Sanguinária, mas, o livro caiu nas mãos de Elizabeth I, que passou a ter certa aversão a Knox.

Dezembro de 1557 foi um período importante para a fé reformada, pois foi nesta época que os nobres escoceses protestantes fizeram um pacto de usar suas vidas e seus bens para estabelecer a Palavra de Deus na Escócia. E nessa conjuntura, Knox deveria voltar para implantar o calvinismo e fundar a igreja presbiteriana escocesa. E isso aconteceu em 1559. Ele retornou e começou a pregar o Verdadeiro Evangelho e logo as ameaças vieram. Mas, mesmo diante de ameaças, ele continuava bradando como um profeta de Deus. Como resultado, um poderoso avivamento sobreveio à Escócia em 1559.

Em 1560, os nobres e membros do Parlamen­to escocês abraçaram a bandeira de Knox e passaram a defender o evangelho reformado. Nesse tempo Knox e outros elaboraram a “Confissão Escocesa”, que depois de pronta foi aprovada pelo parlamento como o credo da Igreja Nacional, rejeitando assim a autoridade do papa e proibindo a missa. Knox também foi o principal autor do Livro de Disciplina, que traçava uma forma presbiteriana de governo para a Igreja, seguindo o mesmo plano da Igreja Protestante Francesa. Em decorrência dessas medidas, reuniu-se neste mesmo ano, 1560, a primeira Assembléia Geral da Igreja da Escócia. A nação, por todas as suas classes, deu boas-vindas à nova ordem, e a Reforma foi concluída e solidificada, embora não ainda com plena legalidade.

Em 1560 Marjory, a esposa de Knox, mor­reu e isso o machucou bastante, mas mesmo assim ele prosseguia, lançando os fundamentos da igreja. Nesse interim, Maria Stuart, retornou à Escócia para assumir seu posto de rainha e trazer de volta o país ao papado. Desde o princípio ela insistiu em celebrar a missa em sua capela privada e por isso Knox começou a bradar contra a idolatria desta nova Jezabel. Suas palavras eram duras e muitas vezes levaram a rainha às lágrimas, pois ela odiava a pregação de Knox. Diz-se que Maria o temia e “tinha mais medo das orações de Knox do que de muitos regimentos de soldados ingleses.”[6] Obviamente Knox fazia tudo isso movido por um santo desejo de estabelecer o reino de Deus no seu país.

Mas, em meio a uma vida de tantas lutas e perseguições, Knox sofreu um ataque de paralisia e teve que retirar-se da vida ativa. Quando ficou sabendo da matança de São Bartolomeu na França fez um esforço sobre-humano para regressar ao púlpito, de onde avisou a seus compatriotas que igual sorte lhes aguardava se fraquejassem na luta.

Knox foi fiel a Deus até o seu último sermão, pregado em 9 de novembro de 1572. Agora, ele já estava muito debilitado e sem poder andar e por isso, foi carregado até o seu púlpito.

Poucos dias depois, no seu leito de morte, no dia 24 de novembro de 1572, Knox pediu para sua esposa ler a ele João 17 e 1Coríntios 15. Pediu também para ela ler os sermões de Calvino na epístola aos Efé­sios.

Finalmente, chegou a hora de partir, e ele deu um profundo suspiro dizendo: “Agora chegou. Vem, Senhor Jesus, doce Jesus. Em tuas mãos entrego meu espíri­to”. E partiu para a eternidade para estar com o seu Senhor!

Conta-se que uma imensa multidão encheu as ruas de Edimburgo para prestar suas homenagens a Knox. O seu corpo foi deixado em repou­so no templo de Saint Giles. Conta-se que no seu funeral alguém se levantou e disse: “Aqui jaz alguém que em toda sua vida jamais temeu a face do ho­mem”.

Knox faleceu, mas seu legado permanece até hoje. E de sua obra podemos aprender várias coisas importante, das quais citarei algumas:

1 – Primeiro: Foi na Escócia de John Knox que surgiu o conceito de “presbiterianismo” que diz respeito à forma de governo da igreja. Obviamente, os reis ingleses e escoceses defendiam o episcopalismo e por isso não eram simpatizantes do presbiterianismo. E porquê? Porque no episcopalismo a igreja é governada por bispos, e eram os reis ingleses que nomeavam os bispos, e por isso amavam essa idéia, uma vez que a Igreja seria mais facilmente controlada pelo estado e serviria aos interesses da Coorte.
Porém, Knox insistiu que a forma de governo do Novo Testamento é Presbiteriana, o que significa que a igreja deve ser governada por oficiais eleitos pela comunidade, e não pelo Estado.

2 – Em segundo lugar, é digno de nota os esforços de Knox em relação à pureza do culto solene. Do púlpito e sem medo, Knox condenou abertamente as práticas idólatras da igreja, pois acreditava que Somente a Escritura deve ser o guia para o culto público. Sendo assim, todas as práticas que não são validadas pela Palavra de Deus, devem ser repudiadas e abolidas. Para ele “toda adoração, toda honra ou serviço inventada pela mente do homem na religião de Deus, sem Seu expresso mandamento, é idolatria. A Missa foi inventada pela mente do homem, sem qualquer mandamento de Deus; portanto, ela é idolatria”.
Foi somente assim que à partir de Knox, o culto na Escócia passou a ser uma atividade corporativa, onde as pessoas de fato estavam envolvidas. O latim foi substituído pelo inglês, e agora todos podiam entender o que estava acontecendo na celebração. A Bíblia foi traduzia e entregue nas mãos do povo, de modo que todas as igrejas tinham uma Bíblia em inglês. A mensagem da cruz passou a ser uma mensagem simples, sem a implementação de aparatos papista. Os Salmos passaram a ser cantados e a igreja se tornou totalmente comprometida com Palavra de Deus.

3 – Também, Knox nos ensina algo fundamental acerca da firmeza na defesa da verdade. Knox entendia que o que ensinava estava fandamentado na Palavra de Deus e por isso não temia a tirania dos homens. Como diz Lloyd Jones, “ele nunca teve medo de ficar sozinho e de aguentar tudo sozinho.”[7] Ele não hesitava em ir ao púlpito e pregar abertamente contra aquilo que não concordava com as Escrituras. Ele usou várias vezes sua pregação para refrear a cobiça dos lordes da Escócia. Knox nos dá um exemplo primoroso do que seja uma teologia engajada, que busca aplicar os preceitos bíblicos em todas as áreas da vida cristã privada e pública. Seu sermão tinha a capacidade de colocar o temor de Deus nas pessoas. Ele era corajoso na defesa da verdade.

4 – Por fim, aprendemos com Knox acerca do seu profundo amor pela igreja de seu país. Conta-se que Knox orava pela igreja escocesa dizendo: "Oh Deus! Dá-me a Escócia, senão eu morro". Por isso, ele buscou forças em Deus para reformar a igreja de seu país. Isso é uma boa lição para nós.
Sem dúvidas nenhuma, a igreja brasileira seria muito beneficiada se observasse a seriedade da pregação de Knox, em especial no que diz respeito à liturgia e a adoração pública.

Infelizmente, muitas invenções humanas invadiram o arraial de Cristo e o culto solene foi paganizado. Deus se transformou em um objeto de manipulação e satisfação do egoísmo humano. Mas, com Knox aprendemos que o homem por si mesmo não pode decidir como Deus deve ser adorado. Somente Deus pode determinar isto. E se isso é verdade, então, que as práticas pagãs dos neo-pentecostais sejam repudiadas urgentemente. Somente o que Deus ordenou em sua palavra deve ser levado a sério e defendido como parte integrante da adoração de Deus. É nisso que cremos, é nisso que permanecemos.

[1] LLOYD JONES, Os Puritanos, suas origens e seus sucessores, p 269.
[2] BOND, A Poderosa Fraqueza de Knox, p 22.
[3] BOND, A Poderosa Fraqueza de Knox, P. 22.
[4] LLOYD JONES, Os Puritanos, suas origens e seus sucessores, p 269.
[5] LLOYD JONES, Os Puritanos, suas origens e seus sucessores, p 269.
[6]  LLOYD JONES, Os Puritanos, suas origens e seus sucessores, p 274.
[7] LlOYD JONES, Os Puritanos, suas origens e seus sucessores, p 274.


Bibliografia: Escrito por Dorisvan Cunha - Blog IPBD Paraupebas.


Com Amor... Pr. Alecs Ferreira!!!

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